quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O Mestre Amor (Javier Ocampo)

Trabalho apresentado à disciplina de Heresiologia do Curso Livre de Teologia do CEFORTE (Polo Cascadura).
Por: Leandro Alencar Pedras Monteiro
Rio de Janeiro - 2013


Introdução
Na província de Catamarca, na Argentina, há uma comunidade chamada Meditazen, liderada por Javier Ocampo, mais conhecido como Mestre Amor. Seus seguidores abandonam tudo para seguir às cegas os controvertidos preceitos do seu líder.
Trata-se de um movimento contemporâneo e com poucos informações. Por exemplo, não é possível saber, pois o mesmo assim não o revela claramente, como surgiu o pensamento. Ele mesmo não relata quando teve, ou até mesmo se teve, algum tipo de “visão ou chamado.” O pouco que se tem de informação é do que o líder e os seus seguidores revelam em documentários, como o que embasou esta pesquisa e por relatos de supostas vítimas de abuso sexual, que não vivem mais na comunidade.


O Mestre Amor
Javier Ocampo, é o líder, fundador e mantenedor da comunidade conhecida como Meditazen (Terra do Meditador). Mestre em artes marciais, jovem, carismático, pouco estudo. Sua característica bem forte é a persuasão, friamente mascarada por seus atos de carinho, atenção e acolhimento que demonstra aos fiéis. Também reage bem às perseguições externas (assim entendidas por ele), dizendo fazer isso parte de seu ministério. Diz que a sociedade o persegue por não entender seus métodos de ensinamento e estilo de vida, onde prega que não temos necessidade de conforto e bem estar, ou até mesmo de parentes para nos sentirmos bem.
Segundo seus relatos, ele não se intitulou “Mestre Amor”. As pessoas passaram a chama-lo assim.
Para seus seguidores é visto como Deus. Pois todos somos deuses, e ele já tem uma compreensão maior disso.

Meditazen
Trata-se de um lugar (espécie de sítio), na Província de Catamarca, na Argentina.
O nome pode ser traduzido como: Lugar do Meditador.
Neste espaço estabelece-se um convívio de comunidade. As pessoas moram em quartos coletivos e tem o trabalho forçado. Com isso, geram economia e sustento próprio.
As pessoas que decidem viver com o Mestre Amor, largam sua vida na sociedade (emprego, família, estudo...), vendem o que tem, entregam à Javier Ocampo, e passam a depender do trabalho e da comunidade.
Neste lugar há uma divisão de 2 bairros. 1 para os que não tem muito dinheiro e optam em morar nos quartos coletivos e 1 bairro para os discípulos com maior poder executivo ou algum sustento externo. No bairro com áreas comuns vivem 90 pessoas em 25 quartos, onde o discípulo pode usar um quarto sozinho ou com alguém de idade próxima, e também há quartos para famílias inteiras. No o outro bairro, as casas são construídas com os recursos dos discípulos. As famílias tem um pouco de conforto com a privacidade e não precisam se sujeitar tanto ao trabalho.
Javier Ocampo tem 1 casa em cada bairro.

Sincretismo Religioso
Como toda seita, ou movimento controvertido contemporâneo, o Mestre Amor conta com um sincretismo religioso muito vasto. É mestre em artes marciais, de onde tira alguns ensinamentos orientais e filosofias. Usa técnicas de psicologia para subjugar seus discípulos. Usa elementos exotéricos, como: Incenso, velas, imagens. Usa a música e um formato de culto, além de estar construindo um templo. Faz uso da meditação e da auto ajuda, dizendo que o homem encontra respostas, força e liberdade em si mesmo.

O que prega
O Mestre Amor prega o crescimento espiritual. Para isso o ser humano tem que destruir o seu próprio ego. Fazendo isso, segundo ele, a pessoa torna-se “chefe” de si mesmo, senhor das próprias emoções, sentimentos e atos. Diz que temos que trabalhar nossa força interior e vencermos nossos medos.
Prega também que não devemos ter co-dependência. Devemos ser livres e não dependermos dos outros. Somente de nós mesmos. Diz que não podemos depender nem mesmo de pai, mãe ou amigos.

Seus métodos
- Esvaziamento e esgotamento:
Quando ele incentiva seus discípulos a esvaziarem-se de si, está esgotando o ser de cada um. Desta forma, a pessoa vai até o mais profundo poço. Então, o que lhe resta é a ajuda espiritual do Mestre Amor. Inconscientemente a pessoa somente o encontra pela frente.
- Isolamento e trabalho:
Vivendo da forma que ele propõe a vida em Meditazen, o indivíduo não tem muito, ou em alguns casos, nem tem contato com o mundo exterior. Sendo assim, ouvem o tempo todo a mesma pessoa que se entende como deus. Para que haja o sustento a contento, todos precisam trabalhar de sol-a-sol. Unindo isso a algumas atividades em grupo, como estudos e reuniões, os discípulos não tem tempo para refletir sobre outras coisas das quais talvez sentiria falta.
- Grupo Piramidal:
Nestes grupos, onde o “poder e sabedoria” emanam diretamente de um líder, ouve-se apenas uma voz. Dessa voz os discípulos recebem o que é bom e o que é mau sem distinguir.
- Substituição afetiva:
Em um dos casos dos entrevistados, temos o depoimento de uma mulher que ao conhecer Javier Ocampo, relatou a ele sua crise interna e seu vazio por não ter sido mãe. O Mestre Amor, prontamente a abraçou e disse: “Como não? Eu sou seu filho!” e a abraçou. Desta forma supre até mesmo a carência afetiva de um ente próximo, tendo ele existido ou não.
- Demonstração de amor (ação):
O Mestre Amor sempre está pedindo perdão aos seus discípulos pelo mau que ele os causa, pois, somente assim eles aprenderão. Então, mesmo que ele precise bater em alguém, no meio de um ensinamento de artes marciais, o discípulo não reclama, por entender que está aprendendo.
Também prega a cura com o amor, dizendo ser essa uma técnica mais antiga que a medicina. Baseando seu testemunho no discurso dos próprios discípulos, dentre os quais alguns médicos.
- Ignorar o conhecimento:
Prega a não necessidade de muito estudo para o crescimento espiritual. Diz, inclusive, que quanto maior conhecimento acadêmico, mais medos a pessoa tem. Salientando sempre que muitos de seus discípulos são doutores e letrados.
- Seminários:
A comunidade está sempre promovendo seminários sobre os ensinamentos do Mestre Amor, onde o próprio ministra as palestras e sessões de artes marciais. São os chamados seminários sobre Wing Chun. Uma derivação do Kung Fu, onde se prega disciplina e auto-conhecimento.
Os seminários tem o objetivo de manter a comunidade em número. A medida que 1 ou 2 discípulos deixam a comunidade, sempre tem alguém disposto a seguir, pois a doutrina é passada de uma forma agradável nesses períodos.
- Ensina por contos:
Seus discípulos o admiram pela linguagem simples, transmitida através de contos, como Jesus fazia. Desta forma, entendem bem o mestre que não usa discursos prontos, dando a ideia de deter a sabedoria divina e falar sempre do coração.

Prisão
Javier Ocampo, foi preso por 1 ano, acusado de abuso infantil agravado. O processo foi abrandado para abuso consentido por engano. O caso mais grave é de um menino de 11 anos, levado pela mãe para morar na comunidade. Segundo relatos do menino, agora maior, seu mestre o convidava para sessões de filmes pornos e abusava dele.
O Mestre Amor responde em liberdade a este processo e também é acusado por mais 5 jovens pelo mesmo crime.

Conclusão
Esta pequena seita, que parece inofensiva, até mesmo pelo nome que recebeu, nos alerta para um problema recorrente na atualidade. A busca pela felicidade e do preenchimento do vazio.
Devemos estar atentos aos métodos usados por Javier Ocampo, que facilmente detectamos em alguns movimentos, até mesmo com o nome de evangélicos, como: isolamento, centralização, substituição afetiva, incentivo ao não conhecimento e etc.
Vemos nessa seita uma característica muito comum ao século XXI, onde há uma super valorização do ser humano. E isso por vezes se dá pelo indivíduo buscar isso, mas, em outras vem da parte dos seguidores. Vemos no caso de Javier Ocampo, que as pessoas começaram a chama-lo de “Mestre Amor”. Consideramos isso um fato preocupante e recorrente em alguma parte do meio evangélico. A centralização e a super valorização da figura humana. As consequências disso são desastrosas, pois quando o ser humana reverenciado, por algum motivo, erra, ou torna público uma falha que estava em oculto, todos os seus seguidores ficam perdidos e sem direção, pois, basearam sua fé e se referenciavam na pessoa falível. Cristo tem que ser sempre o centro, e Sua Palavra a diretriz.
Quanto à seita em questão, também notamos uma falta de direção ou sentido. Em alguns momentos, Javier Ocampo fala de uma felicidade interior, que entendemos deve ser vivida na terra, já que em nenhum momento ele fala de vida pós morte. Logo, se ele não fala de vida pós morte, por que pregar uma negação a tudo, enclausurando seus discípulos? Ora! Como eles demonstrarão, ou praticarão a felicidade conquistada somente entre 90 pessoas? Que sentido ele dá às coisas? Pra que essa preparação para a morte, aceitando-a de melhor forma, se tudo acaba aqui? Outra coisa que não fica clara, é a quem se presta adoração ou a quem se faz as orações, já que ele diz que o homem deve ser chefe de si. Também é confuso na questão da divindade, quando diz que cada homem é um deus, mas, por vezes em seus discursos e ensinamentos se nomeia como o próprio deus.
A despeito de tudo isso, sua maior heresia é não reconhecer a Cristo como o salvador dos homens e libertador dos pecados.

Fontes
- Mundo Extremos (Episódio 3) - O Mestre Amor, National Geographic
- Site: www.maestroamor.com.ar